Stop the Rain é a nova música de Tablo com RM que promete mexer com o coração de quem acompanha a jornada dos dois artistas — e não é só por causa da letra profunda. O simples fato de ela existir já é um pequeno milagre. Sim, estamos falando de uma colaboração que ficou guardada por quase dois anos e que, segundo o próprio Tablo, quase não viu a luz do dia. Quase.
“Stop the Rain é uma collab entre Tablo e RM que quase ficou só no rascunho.”
Essa frase poderia facilmente ser o subtítulo oficial da faixa — e resume bem o que está por trás do lançamento.
Mas o momento chegou. E não poderia ser mais simbólico.
RM, ou melhor, Kim Namjoon, está a apenas 40 dias de concluir seu serviço militar obrigatório. Ele passou esse período — longe dos palcos, mas não da arte — presenteando os fãs com participações, colaborações e lançamentos que mostram como sua criatividade não entrou em hiato. E Stop the Rain chega como mais uma dessas preciosidades que ele preparou com carinho mesmo durante esse tempo de pausa.
A ansiedade dos fãs não é à toa. Além da espera longa, a música já carrega a promessa de ser emocionalmente intensa — do tipo que faz a gente parar o que está fazendo para apenas… sentir. Algo que Tablo e RM sabem fazer como poucos.
Stop the Rain não é só uma música nova. É um encontro de mentes brilhantes, um desabafo artístico e, para muita gente, a trilha sonora perfeita para atravessar dias nublados — por dentro ou por fora.
Se você está curioso para saber mais sobre a letra, a história por trás e todos os detalhes dessa collab tão especial, fique por aqui. Este artigo foi feito para você.
Letra completa com tradução e pronúncia de Stop de Rain – Tablo x RM
Hello, rainy day
Olá, dia chuvoso
Rélô, rêini dêi
💜
TABLO, RM
TABLO, RM
Tablo, A-rem
💜
I’m all in (hmm)
Estou apostando tudo (hmm)
Áim ól in (hmm)
With a losing hand
Com uma mão perdedora
Uíth a lú-zin rénd
Teachers called me rebel
Os professores me chamavam de rebelde
Tí-tchers cóld mi ré-bel
Parents called me lost
Meus pais diziam que eu estava perdido
Pé-rents cóld mi lóst
Pastors called me devil
Pastores me chamavam de demônio
Pés-tors cóld mi dé-vôl
Had me kneelin’ at the cross
Me faziam ajoelhar na cruz
Réd mi ní-lin ét dê crós
Since I was a young’un, I was called names and bossed around
Desde pequeno, me chamavam de nomes e mandavam em mim
Sins ái uôs a iángan, ái uôs cóld nêims end bóst aráund
Back to the wall so long, call me pain’s poster child
Encostado na parede por tanto tempo, me chamem de garoto-propaganda da dor
Bék tu dê uól sou lóng, cól mi pêins póstêr cháild
Religious home, times were different
Lar religioso, outros tempos
Ri-lí-djas rôum, táims uêr dí-fê-rênt
They told me I was gifted, but to unwrap my mind was wicked
Diziam que eu era talentoso, mas desvendar minha mente era perverso
Dêi tôuld mi ái uôs guíf-ted, bât tu an-rép mái mái-nd uôs uí-ked
I was raised by guilt, raised by shame, raised by the rod
Fui criado pela culpa, pela vergonha, pela vara
Ái uôs rêi-zd bai guílt, rêi-zd bai chéim, rêi-zd bai dê ród
(Bloody calves sacrificed in the name of their God)
(Bezerros sangrentos sacrificados em nome do Deus deles)
(Blâ-di kávz séc-rê-fáisd in dê nêim óv dér Gód)
They claimed it was love, felt like heartbreak to me
Eles diziam que era amor, mas pra mim parecia um coração partido
Dêi cléimd it uôs lâv, félt láik rárt-brêik tu mi
Later they’d say: Baby, all your scars are to teach
Depois diziam: Amor, todas as suas cicatrizes servem pra ensinar
Lêi-rêr dêid sêi: bêi-bi, ól iór skárz ár tu títch
And remind you, you can soar higher
E te lembrar que você pode voar mais alto
Énd ri-máind iú, iú kén sór rái-êr
What good’s a bird’s eye view when you’re in a hunter’s crossfire?
De que adianta a visão de um pássaro quando se está na mira de um caçador?
Uót gudz a bãrds ái viú uên iór in a rân-têrz crós-fái-êr?
Sometimes I wished I got crushed in the womb
Às vezes eu queria ter sido esmagado no útero
Sám-taimz ái uí-sht ái gót crâsht in dê úm
Turned to dust in the womb
Virado em pó ainda no útero
Târn-d tu dânst in dê úm
My scent of youth, an ungodly perfume
Meu cheiro de juventude, um perfume nada divino
Mái sent óv iúth, én ân-gód-li pér-fiúm
No wonder I’ve always hated the adults in the room
Não é surpresa eu sempre ter odiado os adultos na sala
Nô uân-dêr áiv ól-uêiz rêi-ted dhi â-dâlts in dê rúm
💜
The rain, the rain will fall
A chuva, a chuva vai cair
Dê rêin, dê rêin uíl fóll
And tomorrow may not come
E talvez o amanhã nem chegue
Énd tu-mó-rou mêi nát câm
But maybe the tears will fall
Mas talvez as lágrimas caiam
Bât mêi-bi dhâ tí-ers uíl fóll
To wash the pain away
Pra lavar a dor embora
Tu uósh dhâ pêin â-uêi
I’m tryna stop the rain
Estou tentando parar a chuva
Áim trái-nâ stóp dhâ rêin
(I know what it feel like)
(Eu sei como é essa sensação)
(Ái nôu uát it fíl láik)
💜
Can’t run away from the pain
Não dá pra fugir da dor
Ként rân â-uêi frâm dhâ pêin
I feel like I’m goin’ insane
Sinto que estou enlouquecendo
Ái fíl láik áim gôu-in in-sêin
Bad thoughts fillin’ up my brain
Pensamentos ruins enchendo minha mente
Béd tháts fí-lin âp mái brêin
Demons swimmin’ inside my veins
Demônios nadando dentro das minhas veias
Dí-mâns suí-min in-sáid mái vênz
Two seconds from fallin’ into nothing
A dois segundos de cair no nada
Tu sé-kânds frâm fó-lin ín-tu nâ-thin
Can’t run away from the pain
Não dá pra fugir da dor
Ként rân â-uêi frâm dhâ pêin
I’m tryna stop the rain
Estou tentando parar a chuva
Áim trái-nâ stóp dhâ rêin
💜
When I was a kid, I was convinced that I was destined for the 27 Club, mm
Quando eu era criança, tinha certeza de que meu destino era o Clube dos 27, mm
Uén ái uôz a kid, ái uôz cân-vínst dhét ái uôz dés-tind fór dhâ túen-ti-sé-vên clâb, mm
I’m twenty-nine, sinkin’ in the bathtub, sippin’ gin, lookin’ for another club
Tenho vinte e nove, afundando na banheira, bebendo gim, procurando outro clube
Áim tuén-ti-náin, sîn-kin in dhâ béth-tâb, sí-pin djin, lú-kin fór â-nâ-thêr clâb
All the lost was a lust, dust into dust
Toda perda foi desejo, pó ao pó
Ól dhâ ló-st uôz a lâst, dânst ín-tu dânst
Stray after stable, 다시 덫 뒤에 덫
Do desvio à estabilidade, armadilha atrás de armadilha
Strêi éf-têr stêi-bôl, dá-shi dôt dui-e dôt
And every night, I put my shadows on
E toda noite, visto minhas sombras
Énd é-vri náit, ái pút mái shé-dôuz ón
But you know how much I hate my status quo?
Mas você sabe o quanto eu odeio meu estado atual?
Bât iú nôu ráu mâ-tch ái rêi-t mái sté-tus cuô?
(Be positive)
(Pense positivo)
(Bí pó-zi-tiv)
I know, but you gotta know my life is out of love
Eu sei, mas você precisa entender que minha vida está sem amor
Ái nôu, bât iú gá-râ nôu mái láif iz aut óv lâv
All the lessons learned already, comin’ out of trust
Todas as lições já aprendidas vieram da perda da confiança
Ól dhâ lé-ssâns lâr-nd ól-ré-di, câ-mîn aut óv trâst
Keep my mind steady but it’s hard to readjust
Mantenho minha mente firme, mas é difícil me reajustar
Kíp mái máind sté-di bât its rárd tu ri-a-djâst
Nothing stops time but the clock will turn to rust
Nada para o tempo, mas o relógio vai acabar enferrujando
Nâ-thin stáps táim bât dhâ clók uíl târn tu râst
💜
Pain and rain, they still stay the same
Dor e chuva, elas ainda continuam as mesmas
Pêin end rêin, dêi stíl stêi dhâ sêim
Got me lookin’ for the exit just to entertain
Me fazem procurar uma saída só pra distrair a mente
Gót mi lú-kin fór dhi ég-zit jâst tu én-têr-têin
Pain and rain, think I’m goin’ insane
Dor e chuva, acho que estou enlouquecendo
Pêin end rêin, thínk áim gôu-in in-sêin
Gotta turn off my phone tonight
Preciso desligar meu celular hoje à noite
Gá-râ târn óf mái fôn tu-náit
💜
Can’t run away from the pain
Não dá pra fugir da dor
Ként rân â-uêi frâm dhâ pêin
I feel like I’m goin’ insane
Sinto que estou enlouquecendo
Ái fíl láik áim gôu-in in-sêin
Bad thoughts fillin’ up my brain
Pensamentos ruins enchendo minha mente
Béd tháts fí-lin âp mái brêin
Demons swimmin’ inside my veins
Demônios nadando dentro das minhas veias
Dí-mâns suí-min in-sáid mái vênz
Two seconds from fallin’ into nothing
A dois segundos de cair no nada
Tu sé-kânds frâm fó-lin ín-tu nâ-thin
Can’t run away from the pain
Não dá pra fugir da dor
Ként rân â-uêi frâm dhâ pêin
I’m tryna stop the rain
Estou tentando parar a chuva
Áim trái-nâ stóp dhâ rêin
💜
I’m tryna stop the rain
Estou tentando parar a chuva
Áim trái-nâ stóp dhâ rêin
I’m tryna stop the rain
Estou tentando parar a chuva
Áim trái-nâ stóp dhâ rêin
Quem são Tablo e RM, os nomes por trás de Stop the Rain
Para entender o peso emocional e artístico de Stop the Rain, é importante conhecer melhor quem são os artistas por trás dessa colaboração poderosa. Não estamos falando de qualquer dupla — estamos falando de duas mentes brilhantes, profundamente conectadas com a palavra, cada uma à sua maneira.
Tablo: o poeta do caos
Daniel Armand Lee, mais conhecido como Tablo, é canadense de nascimento, mas virou um dos nomes mais influentes do hip-hop sul-coreano. Do grupo Epik High, ele é um verdadeiro mestre das palavras. Poeta, produtor e sobrevivente de muitas batalhas pessoais, ele ficou conhecido por suas letras profundas e por transformar dor em arte. Graduado em Stanford, com um passado de superações que inspiram até quem nunca ouviu hip-hop, ele é daqueles artistas que entregam verdade — sempre.
E se Stop the Rain acaba de chegar, saiba que essa faixa estava engavetada há quase dois anos — e só agora Tablo decidiu compartilhá-la com o mundo. Ainda bem.
RM: o filósofo do pop
RM, líder do BTS, é outro nome que carrega peso — e poesia. Mesmo durante o serviço militar obrigatório, ele continuou presente através da arte. Seu trabalho mais recente, o experimental RPWP, virou álbum e documentário, explorando um processo de autodescoberta pessoal e criativa.
Uma das faixas, LOST!, ganhou um clipe elogiado e premiado, consolidando ainda mais o respeito que RM conquistou dentro e fora do K-pop. Com um estilo introspectivo e cheio de camadas, ele é conhecido por transformar reflexões complexas em músicas que tocam qualquer um — e Stop the Rain promete seguir essa mesma linha.
O lançamento de Stop the Rain: uma surpresa cuidadosamente silenciosa
Sem avisar, sem teaser, sem pôster colado na cara do mundo — foi assim que Stop the Rain chegou até nós. E talvez seja justamente essa simplicidade que torna tudo ainda mais especial.
A colaboração entre Tablo e RM estava guardada a sete chaves. Literalmente. Até poucos dias antes do lançamento, ninguém fazia ideia de que essa música sequer existia. Tablo nunca tinha mencionado a faixa publicamente, e RM — em meio ao seu serviço militar obrigatório — também não deu nenhum spoiler. Nenhum.
Uma surpresa em forma de reels
Tudo começou de forma discreta, mas certeira. No dia 23 de abril, Tablo postou um reels misterioso no Instagram. A prévia da música vinha sem nome, sem detalhes e, principalmente, sem revelar quem era o artista convidado. Foi o suficiente para deixar o público com a pulga atrás da orelha.
No dia seguinte, 24 de abril, o grande segredo foi revelado: RM, do BTS, era o nome por trás da colaboração. A confirmação veio em um novo post no Instagram, com capa oficial e uma avalanche de reações.
No dia 25, mais uma peça importante foi mostrada: a contracapa do single e a mensagem que aparece no verso. Um texto breve, mas que carrega o coração do projeto. Aqui vai a tradução para o português:
Querido(a)
Como estão as coisas aí desse lado? Eu sei, eu sei.
Tem sido um inferno, né?
Você achou que, se trabalhasse duro o bastante, se virasse alguém, se finalmente fizesse as pessoas falarem seu nome, então o passado perderia força.
Mas eu fico pensando… será que você só está segurando um guarda-chuva maior para os mesmos fantasmas se abrigarem?
Não vai ser fácil, mas hoje à noite, eu estou tentando parar a chuva.
Difícil não sentir um nó na garganta, né?
RM em silêncio, Tablo no comando
Como Namjoon está servindo ao exército, ele não está participando das promoções de Stop the Rain. Mas fez questão de compartilhar o lançamento nos stories do Instagram — e o ARMY, claro, já entendeu a mensagem.
Tablo, por outro lado, vem conduzindo tudo com a elegância minimalista de quem sabe que não precisa gritar para ser ouvido. Ele publicou um reels curto no próprio dia 25, comentando rapidamente sobre o lançamento e agradecendo o apoio.
Além disso, rolou uma movimentação leve no Stationhead e no canal de transmissão do Instagram. Nada muito planejado, nada forçado — só o suficiente para mostrar que Stop the Rain foi feita para quem realmente quer escutar.
Spoiler controlado (mas nem tanto)
No dia 28 de abril, Tablo entregou mais uma peça do quebra-cabeça: postou uma imagem com trechos da letra de Stop the Rain. Algumas partes estavam cobertas por tarjas pretas — como se ele dissesse “te conto, mas não tudo”. Ainda assim, foi o bastante para o público entender que vem pedrada emocional por aí.
As frases visíveis já mostram que a música carrega o peso típico de letras que não passam pano. Reflexiva, honesta e com aquele tom existencial que tanto RM quanto Tablo dominam. O tipo de letra que a gente lê e pensa: “Uau.”
Uma música que esperou o momento certo
Histórias por trás de Stop the Rain
Algumas músicas nascem com pressa. Outras, precisam de tempo — e silêncio. Stop the Rain, colaboração entre Tablo e RM, faz parte do segundo grupo. Ela foi feita com calma, guardada com carinho, e só foi lançada quando ambos sentiram que era o momento certo. Por trás dessa faixa, existe uma história de respeito, intimidade artística e muito cuidado com a vulnerabilidade.
Um diário que virou música
Tudo começou há cerca de dois anos, logo após o lançamento de All Day, a primeira colaboração entre os dois artistas. Tablo e RM queriam fazer algo completamente diferente — uma canção que misturasse seus mundos musicais de forma autêntica. O tema surgiu naturalmente: a chuva, metáfora recorrente na obra de ambos.
Em entrevista à Weverse Magazine, Tablo disse que, ainda antes de se alistar, RM comentou com Tablo que queria trabalhar em uma música dele dessa vez — e que queria algo com mais emoção. Ao ouvir a demo de Stop the Rain, RM respondeu:
“Seria muito significativo trabalhar com você em uma música sobre a chuva.”
RM sugeriu que escrevessem as letras em inglês e disse que poderia levar um tempo, mas queria fazer isso com calma. A conexão entre eles ficou ainda mais clara quando perceberam que a chuva é um símbolo recorrente tanto na discografia do Epik High quanto na do BTS. Tablo lembrou que, se o Epik High tivesse um “universo cinematográfico”, ele sempre teria dias chuvosos. E que RM, com músicas como forever rain, também carrega esse clima em sua arte. A ideia do tempo chuvoso como metáfora para juventude, dor e superação veio naturalmente.
“Se fosse só comigo, eu lançaria. Mas com o RM envolvido… eu não queria que ele fosse prejudicado”, contou em entrevista à Rolling Stone. O conteúdo da letra é denso, tocando em assuntos delicados como tristeza, traumas de infância, saúde mental e até pensamentos suicidas. Tudo isso em versos poéticos e dolorosamente honestos.
Por que Stop the Rain demorou tanto para ser lançada
Apesar de tudo ter começado antes do alistamento de RM, a música acabou sendo engavetada por quase dois anos. O motivo? O conteúdo da faixa é muito íntimo — parecia mais um diário do que uma canção pronta para o mundo.
Tablo contou que chegou a considerar não lançar a música nunca, principalmente porque RM estava em serviço militar e não poderia responder ou contextualizar suas próprias letras.
“Era como se eu tivesse o diário de outra pessoa nas mãos”, explicou. . Mas então, alguns meses atrás, foi o próprio RM quem mandou uma mensagem:
“Hyung, cadê a música? Por que você não lança?”
Tablo explicou que achava a letra íntima demais, que não queria expor RM sem permissão. A resposta foi direta:
“Do que você está falando? Lança.”
Ele também revelou que havia planejado lançar a música bem antes, mas algo não parecia certo. A cada nova tentativa, algo o fazia segurar de novo.
E foi assim, do nada, que o projeto adormecido ganhou vida. Tablo teve que correr para terminar a mixagem e preparar tudo. O lançamento de Stop the Rain foi marcado estrategicamente para um mês antes da dispensa de RM, justamente para poupá-lo de ter que responder perguntas sobre as letras durante sua volta à vida pública. Um cuidado que diz muito sobre a relação entre eles.
Uma música que foge das regras — ainda bem
Durante uma listening party, Tablo compartilhou algo curioso:
“Recentemente, um artista novo me mostrou uma mensagem que recebeu da gravadora com as regras para criar um hit em 2025. Tipo: a música tem que ser curta, letra simples, ideal para vídeos de culinária. E eu pensei… ferrou.”
Stop the Rain é o oposto disso. Tem introdução longa, letra densa e nenhuma pressa em agradar o algoritmo.
Mas segundo Tablo, é justamente isso que torna a música especial.
“É uma música honesta. E por ser honesta, há dor nela. Mas é isso que a torna fortalecedora.”
Por que a música ficou em segredo por tanto tempo
Durante todo esse período, Tablo não falou publicamente sobre Stop the Rain. Nenhum spoiler, nenhuma entrevista, nada. O silêncio fazia parte do processo — e também do cuidado.
Ele explicou que estava protegendo o conteúdo da música e, principalmente, o RM. As letras abordam memórias dolorosas, como os abusos que Tablo sofreu na infância. Ele conta que cresceu sendo agredido pelos pais, irmãos, professores — uma geração inteira que normalizou a violência.
Essa dor ficou guardada por muito tempo e agora aparece, finalmente, em forma de arte.
A chuva, nesse caso, representa tanto a dor quanto a esperança. Para Tablo, dias chuvosos sempre trouxeram uma sensação de alívio e consciência.
“A chuva me lembra que sou sortudo por ter um teto sobre a cabeça. Por segurar ou compartilhar um guarda-chuva com alguém.”
Uma colaboração de verdade — com centenas de mensagens
Ao contrário do que costuma acontecer no Epik High, onde Tablo escreve sozinho e com pouco diálogo criativo com os membros, em Stop the Rain ele teve com RM um processo cheio de trocas, opiniões e construções em conjunto.
Segundo ele, foram centenas de mensagens trocadas só sobre essa música.
“Foi como estar em uma banda com o Namjoon”, disse. Eles discutiram versos, estrutura, escolhas de arranjo e até sugestões de corte. Um trecho importante, por exemplo, foi removido por sugestão de RM, que sentiu que quebrava o fluxo emocional da faixa. Tablo, depois de pensar, concordou — e cortou sem hesitar.
Até a ideia de transformar a canção em um diálogo foi surgindo ao longo do processo. RM sugeriu que suas vozes fossem tratadas com uma certa distância na mixagem, para dar a sensação de que os dois estavam conversando em meio à chuva. Pequenos detalhes, como RM propor que Tablo dissesse uma frase no lugar dele, ajudaram a criar a atmosfera emocional e íntima que define Stop the Rain.
Uma faixa que quase virou um álbum — mas não virou
Tablo contou também que chegou a pensar em criar um álbum solo a partir de Stop the Rain. A ideia era fazer um novo projeto, mais de 10 anos depois de Fever’s End, com essa faixa como centro. Mas conforme escrevia outras músicas, o álbum foi ficando muito escuro, emocionalmente pesado. Ele percebeu que não queria lançar tudo aquilo junto. As faixas acabaram sendo usadas em projetos do Epik High, e Stop the Rain ficou de lado — mais uma vez.
Mas agora, o momento certo chegou. Segundo Tablo, lançar essa música antes do próximo “monsoon season” (a temporada de chuvas na Coreia) parecia um gesto simbólico e necessário. Ele deseja que, ao ouvir a canção, cada pessoa sinta que pode encontrar alguém — ou algo — com quem desabafar, assim como ele e RM fizeram um com o outro.
Os números de Stop the Rain: um lançamento silencioso que falou alto
Lançada sem grandes campanhas de marketing, Stop the Rain, colaboração entre Tablo e RM, chegou com discrição — mas o impacto foi imediato. A música já está colecionando posições impressionantes nas paradas e conquistando ouvintes ao redor do mundo. E o mais interessante? Tudo isso sem que nenhum dos dois artistas esteja fazendo uma promoção gigante da faixa.
Sim, Stop the Rain estreou no ritmo da própria música: devagar no anúncio, mas profunda no efeito.
Desempenho inicial nos charts: números que falam por si
Apesar de ter acabado de ser lançada, a canção já mostrou seu potencial em diversas plataformas globais. Veja alguns dos principais destaques:
- #1 no Worldwide iTunes Song Chart
- #1 no European iTunes Song Chart
- #1 no iTunes Brasil e em mais de 41 países
- Top 5 no iTunes EUA (#5)
- #28 no chart Hot 100 da MelOn (Coreia do Sul)
- #1 na playlist “The New Seoul” da Apple Music
- #2 no YouTube Trending Worldwide (MV oficial)
- #6 no ranking Genius HOT TOP 100, com destaque na home do site
Nos 8 maiores mercados da música mundial, os resultados também impressionam:
- #1 — Brasil (debut direto no topo)
- #1 — França
- #2 — México
- #4 — Reino Unido
- #5 — Japão
- #5 — Canadá
- #5 — Alemanha
- #5 — Estados Unidos
Tudo isso nas primeiras 24 horas, e com dados de plataformas como o Spotify ainda por vir — que, como sabemos, demoram mais para atualizar completamente.
Engajamento e reação do público
Mesmo com RM cumprindo serviço militar e Tablo optando por não fazer uma divulgação tradicional, Stop the Rain está sendo amplamente compartilhada por fãs e artistas, aparecendo com destaque nas redes sociais e em playlists de curadoria editorial.
O MV, que é uma animação estilo Lo-fi com elementos simbólicos, já começou a circular fortemente no YouTube, alcançando rapidamente o segundo lugar nos vídeos em alta em escala global.
Além disso, fóruns, páginas de análise musical e perfis de crítica já começaram a destacar a canção pelo lirismo, produção e proposta emocional.
Antes de analisar Stop the Rain, vamos falar sobre letras “pesadas” no universo BTS
Se você acompanha o BTS há mais de cinco minutos, já deve ter percebido que letras densas, emocionais e até dolorosas nunca foram tabu no trabalho do grupo — muito menos em suas carreiras solo. Desde a era HYYH (The Most Beautiful Moment in Life), temas como depressão, abuso, traumas familiares, medo, culpa e isolamento já apareciam com força, embalados por melodias bonitas demais pra serem ignoradas.
A mensagem? Mesmo no caos, é possível buscar beleza. Mesmo na dor, dá pra existir alegria. O BTS nunca prometeu um “mar de rosas”. Eles cantam sobre tentar nadar mesmo quando a água está turva. E isso é muito mais valente.
Mas aí, vem uma nova música com letra intensa — como Stop the Rain — e o que acontece? Uma parte do público surtando como se fosse a primeira vez que RM ou qualquer outro membro tocasse em feridas reais. Spoiler: não é novidade nenhuma.
Quem já escutou Amygdala (do AGUST D), The Last, Set Me Free ou até Spring Day com atenção, sabe: eles falam de coisas sérias há anos. A diferença é que muita gente prefere não ler a legenda. Literalmente.
Como boa parte das músicas está em coreano, muitos apenas cantam junto — sem se preocupar com o que estão dizendo. Mas quando a letra vem direto, crua e sem filtro, como em Stop the Rain, e ainda por cima em inglês, a realidade bate com força. E aí parece chocante. Mas não é.
É só mais um capítulo da mesma história que o BTS sempre contou: a da humanidade em suas partes mais frágeis — e mais corajosas.
Agora sim, com isso em mente, vamos mergulhar nos versos de Stop the Rain com o cuidado que eles merecem.
Análise de Stop the Rain: entre dores passadas e a vontade de seguir em frente
Por mais que os versos de Stop the Rain sejam intensos, Tablo deixou algo bem claro em entrevistas: essa não é uma música sobre desistência. É sobre sobrevivência — e, mais ainda, sobre o desejo de proteger o outro da tempestade.
Durante o processo de composição, tanto ele quanto RM revisitaram memórias difíceis, mas transformaram essas experiências em algo maior do que a dor. Essa música é um gesto de cuidado, não um pedido de socorro. Ela foi escrita com responsabilidade, e lançada no tempo certo — quando ambos estavam prontos para falar com clareza e maturidade sobre suas cicatrizes.
A seguir, a análise dos principais trechos da letra, com reflexões entremeadas pelas falas de Tablo, que ajudam a compreender o equilíbrio entre verdade e esperança que Stop the Rain entrega.
Feridas antigas, ainda lembradas — mas não mais silenciosas
Os professores me chamavam de rebelde
Os pais diziam que eu estava perdido
Pastores me chamavam de demônio
Me faziam ajoelhar diante da cruz
Os professores me chamavam de rebelde
Os pais diziam que eu estava perdido
Pastores me chamavam de demônio
Me faziam ajoelhar diante da cruz
Passei tanto tempo encostado contra a parede
Que virei o garoto-propaganda da dor
Fui criado pela culpa, pela vergonha, pela vara.
Diziam que era amor. Mas pra mim, parecia um coração partido.
Tablo relembra aqui momentos difíceis de sua infância, muitos deles reais, como revelou na Rolling Stone e no Weverse Magazine. Ele cresceu em um ambiente rígido e punitivo, onde o amor vinha cheio de condições.
Mas em vez de romantizar esse sofrimento, ele o denuncia de forma poética e consciente. O próprio Tablo disse que revisitar essas memórias só foi possível agora, com mais de 40 anos, porque se sente mais forte — como alguém que, em vez de se afogar na chuva, aprendeu a segurá-la com um guarda-chuva e, quem sabe, até ajudar outros a se abrigarem.
A dor que poderia ter sido evitada — mas que agora encontra um lugar de expressão
Às vezes eu queria ter sido esmagado no útero
Virado pó ainda no ventre
Meu cheiro de juventude era um perfume impuro
Não é de se estranhar que eu sempre odiei os adultos da sala
Esse é, sem dúvida, um dos trechos mais sensíveis da música. Tablo está sendo direto sobre o nível de desamparo que sentia quando jovem. Mas ele não está celebrando essa dor — ele está exorcizando algo que ficou tempo demais guardado.
Como ele mesmo explicou, Stop the Rain não foi lançada antes justamente porque ele queria ter certeza de que ninguém se sentiria mal ao ouvi-la e exatamente por isso ele tem feito questão de “explicar” a música. Sua intenção sempre foi de acolhimento, não de choque.
Refrão: a chuva continua caindo — mas existe a tentativa de pará-la
A chuva vai cair
E talvez o amanhã não venha
Mas talvez as lágrimas caiam
Pra lavar a dor embora
Estou tentando parar a chuva
Aqui está o verso que mais representa o espírito da música. O título “Stop the Rain” não veio por acaso — foi uma sugestão de RM que transformou completamente o tom da faixa.
A versão anterior dizia “Eu nunca vou conseguir parar a chuva”, mas Namjoon propôs: “E se a gente dissesse: ‘Estou tentando parar a chuva’?” Tablo topou na hora. E foi aí que tudo mudou.
Esse refrão mostra que, mesmo sem garantias, a tentativa de melhorar as coisas já é, por si só, um gesto de amor — por si e pelo outro.
O peso do sucesso e o Clube dos 27 — com cuidado
Quando eu era criança, tinha certeza que meu destino era o Clube dos 27
Hoje tenho 29, afundado na banheira, bebendo gim, procurando outro clube
RM traz à tona um pensamento sombrio, mas que, infelizmente, já passou pela mente de muitos jovens artistas sob extrema pressão. O “Clube dos 27” é uma referência a músicos como Amy Winehouse, Kurt Cobain e o querido Jonghyun, do SHINee — artistas que partiram cedo demais.
Mas atenção: esse verso não é uma glorificação da dor. Pelo contrário, é uma lembrança de que RM passou por esse tipo de pensamento, sobreviveu a ele — e hoje fala disso com coragem e clareza.
Tablo reforçou isso em todas as entrevistas: Stop the Rain não é sobre desistir. É sobre ter estado lá, ter saído de lá, e agora poder estender a mão a quem ainda está lutando.
Ciclos difíceis de quebrar — e a arte como forma de resistir
Toda a perda virou desejo, pó em pó
Desviei do estável, armadilha após armadilha
Coloco minhas sombras toda noite
Mas você sabe o quanto eu odeio meu status quo?
Esses versos de RM falam sobre a repetição de padrões difíceis de quebrar. Ele descreve a sensação de estar preso entre o que esperam dele e o que ele realmente sente. Mas há clareza, há consciência — e há uma recusa silenciosa de aceitar que isso será para sempre.
Nesse contexto, o trecho “다시 덫 뒤에 덫” (“uma armadilha atrás de outra armadilha”) aparece como o único verso em coreano em toda a música, e isso não é por acaso. A escolha reforça o peso emocional desse momento: quando o inglês já não basta, o coreano — sua língua materna — entra como um grito interno, visceral, para expressar algo que ultrapassa a tradução.
Nas palavras de Tablo:
“Mesmo que minhas palavras soem afiadas, hoje eu estou mais distante dessa dor. Eu me tornei mais forte.”
A tentativa constante — mesmo que pareça pequena
A dor e a chuva continuam as mesmas
Procuro uma saída só pra me distrair
Preciso desligar meu celular hoje à noite
Estou tentando parar a chuva (repetido)
O final da música reforça a ideia de que a dor pode persistir, mas a tentativa também. Desligar o celular, buscar silêncio, tentar encontrar abrigo — são gestos pequenos, mas essenciais.
A repetição final do verso “Estou tentando parar a chuva” não soa como um grito. Soa como um sussurro firme, de alguém que não quer desistir.
Stop the Rain é uma música que acolhe, mesmo quando fala de dor
Tablo disse que lançou Stop the Rain agora porque é uma música que pode ajudar pessoas — não causar gatilhos. Ela não oferece soluções mágicas, mas diz que é normal se sentir assim às vezes. E mais: mostra que é possível atravessar essa fase e contar a história depois.
Essa é uma faixa feita por dois artistas que sobreviveram às suas tempestades internas — e agora querem ajudar outros a atravessar as suas.
Se você está passando por um momento difícil, lembre-se: você não está sozinho. E tentar parar a chuva já é um começo.
O começo da chuva: como o MV de Stop the Rain transforma dor em abrigo visual
O MV de Stop the Rain não tem coreografia, nem performance. Em vez disso, oferece algo mais raro: intimidade visual e silêncio emocional.
Com estética lo-fi e traços suaves, a animação retrata não um grande acontecimento, mas um estado de espírito. E talvez por isso mesmo ele mexa tanto com quem assiste.
Tablo revelou que essa música nasceu da ideia de dois artistas — ele e RM — que sobreviveram a tempestades internas e agora tentam proteger outras pessoas da chuva. Por isso, não se trata apenas de tristeza, mas de tentativa. De empatia. De resistência.
E o clipe traduz isso em imagens que, mesmo sem falas, dizem muito.
O começo da chuva: como o MV de Stop the Rain transforma dor em abrigo visual
O MV de Stop the Rain é uma animação que escolhe a delicadeza da introspecção no lugar do espetáculo. Com traços simples, tons nostálgicos e ritmo contemplativo, ele guia o espectador por uma jornada emocional marcada por lembranças, silêncios e uma tentativa sincera de resistir à dor.
Tablo explicou que não queria apenas mostrar uma música — queria expressar algo íntimo, como páginas de um diário que só agora se sentiram prontas para ser lidas. Para isso, optou por um estilo visual lo-fi — uma estética que, em vez de buscar perfeição técnica, valoriza a simplicidade, o clima acolhedor e a atmosfera emocional. Muito comum em vídeos de estudo ou relaxamento, o lo-fi utiliza cores suaves, texturas granuladas e animações lentas, criando um ambiente quase silencioso, onde o sentimento é mais importante do que o impacto visual.
E a escolha de ambientar esse clipe na infância, entre memórias boas e traumas ocultos, torna tudo ainda mais simbólico.
Antes de tudo, assista ao MV abaixo:
Uma infância em tons quentes — e um silêncio escondido
Logo no início, somos transportados para um quarto cheio de detalhes que contam histórias: brinquedos espalhados, toca-discos, um gato dormindo tranquilo, luz do sol atravessando a janela. Um menino está deitado no chão, ouvindo música com fones, cercado por objetos que evocam memória e aconchego.
Se você é fã do Epik High, talvez essa cena pareça familiar — e não é à toa. Tablo revelou que esse cenário foi inspirado em um stream de lo-fi de 24h lançado pelo grupo há cerca de um ano, que mostrava um personagem vivendo nesse mesmo quarto. Veja o trecho abaixo, que encontramos em um canal aleatório do YouTube: é a mesma cena.
Agora, esse universo visual ganha nova vida e mais profundidade em Stop the Rain.
A cena é nostálgica e serena. Ainda que marcada por certa solidão, há ali um clima de refúgio silencioso — como se aquele quarto fosse um espaço seguro onde ele pudesse simplesmente existir, sem precisar explicar nada para o mundo.
E, segundo Tablo, é exatamente isso. Em uma publicação no Instagram, ele contou que esse quarto representa o seu “eu interior”, um lugar que ele criou com criatividade para se proteger da dor.
“Esse é o único lugar onde ele se sente protegido”,disse Tablo. “Mas também está preso.” O menino que vemos seria o garoto do álbum Map the Soul, do Epik High — o reflexo de uma versão interior que encontra na arte o seu abrigo, mas que também carrega limitações. Tudo no cenário faz referência a esse universo: da capa ao símbolo da aranha, até o que se vê pela janela.
Mas essa calma carrega algo mais profundo. Aos poucos, as cores desaparecem, e a paleta quente dá lugar ao preto e branco. O cenário não muda, mas sua atmosfera se transforma. O menino, que antes parecia imerso em seus pensamentos, agora está virado de bruços, imóvel.
A mudança não é brusca — ela é sutil, quase imperceptível. E justamente por isso, tocante. Não é a chegada da dor que mais pesa, mas o modo como ela silencia tudo ao redor. Ainda assim, esse silêncio também pode ser visto como um momento de pausa, de escuta interna. Como se, naquele instante, o mundo lá fora desse lugar a algo mais íntimo — e talvez, necessário.
Quando o mundo se apaga — e sobra o essencial
Em seguida, o cenário desaparece. O quarto — antes cheio de memórias, objetos e aconchego — dá lugar a um fundo escuro e silencioso. O menino agora aparece sozinho, pequeno no enquadramento, cercado apenas pelo vazio. A câmera o observa de longe, como se ele estivesse se olhando de fora, imerso em pensamentos que só ele consegue acessar.
A tela é preenchida por caligrafias delicadas, como se fossem páginas de um diário sendo folheadas lentamente – é a letra da música. Mais do que o conteúdo, o que mais chama atenção é o enquadramento: a escolha consciente de mostrar o menino em contraste com o espaço, destacando sua presença — e sua escuta interior.
Segundo Tablo, essa cena marca uma resposta visual a uma pergunta antiga dos fãs: o que havia atrás da porta, ao lado do violão, no stream de lo-fi do Epik High? Em Stop the Rain, ele finalmente abre essa porta — e encontra o vazio.
É uma escolha carregada de simbolismo. O menino se vê diante do desconhecido e precisa decidir: voltar para o lugar seguro que construiu ou se arriscar em algo novo? Tablo descreve esse momento como “uma libertação, como se ele saísse de um casulo”.
Logo depois, a chuva toma conta da tela — e aqui ela ganha uma nova camada de significado. Tablo revelou que o efeito visual foi feito para lembrar uma TV fora do ar, como aquelas interferências estáticas que apareciam quando a imagem sumia. Um detalhe proposital que reforça o sentimento de ruptura, de transição, de travessia interna.
Essa interferência marca também a passagem da narrativa de Tablo para RM, momento em que o “eu interior” representado no clipe começa a se transformar completamente. E essa transição não acontece só na música — ela é visual: é justamente nesse instante que o menino, que até então flutuava sozinho, ganha asas pela primeira vez.
As asas não duram para sempre. Mais adiante, elas desaparecem. Mas o fato de surgirem nesse exato momento marca o impacto da troca de voz — e talvez de perspectiva. Não se trata apenas de mudar o narrador. É uma mudança de fase: de identidade, de consciência, de dor… e de possibilidade.
Essa parte do clipe não narra ações. Ela convida à pausa. Aqui, o que se vive não é tanto o que aconteceu, mas o que permanece dentro — os ecos, as memórias, os sentimentos ainda em movimento. É um momento de introspecção profunda, sim, mas também de silêncio fértil, onde talvez surja algo novo.
Há dor, mas também há espaço. E esse espaço, agora aberto pela porta, pode ser o início de um recomeço.
A queda como pausa — e a presença sutil das asas
Depois de atravessar o vazio, o menino cai e começa a flutuar. Mas ele não despenca. Também não resiste. Seu corpo paira no ar, num movimento lento, quase sereno, como se o tempo estivesse suspenso junto com ele. É uma cena de quietude: olhos fechados, braços soltos, respiração leve — como se, pela primeira vez, ele apenas se permitisse estar.
Ele ainda está usando fones de ouvido — um detalhe pequeno, mas significativo. Mesmo nesse espaço escuro e suspenso, a música segue com ele. É o fio que o mantém conectado a algo que só ele escuta, só ele entende. Um gesto silencioso de autocuidado.
E então, surgem asas.
A primeira aparição acontece exatamente no momento em que a voz de RM entra pela primeira vez. É uma transição marcante. A música muda, a perspectiva muda — e o menino, até então suspenso no escuro, recebe esse gesto visual de acolhimento. Não é salvação. Não é milagre. É presença. É outro olhar, outra experiência dividida.
As asas desaparecem em seguida, mas voltam mais adiante, durante o trecho em que a música repete: “Dor e chuva, elas ainda continuam as mesmas.” Nesse instante, o menino segue flutuando, e as asas ressurgem com ele.
Elas não vêm com grandiosidade, não prometem alívio eterno. Aparecem discretas — e somem de novo. Há momentos em que estão ali, acolhendo. Em outros, se vão, como se dessem espaço para que ele flutuasse por conta própria.
Essa oscilação é um dos gestos mais delicados do clipe. Ela mostra que a força não precisa ser constante para ser real. Há dias em que nos sentimos amparados, e outros em que tudo parece mais pesado. E tudo bem. O importante é que, mesmo nos momentos incertos, ainda é possível flutuar. Ainda há algo — por menor que seja — que impede a queda completa.
Como Tablo disse, Stop the Rain é dolorosa porque é honesta. Mas também por isso, ela deixa espaço para a esperança. Uma esperança que não grita, mas respira devagar — e permanece.
“Be positive.” — nem sempre é tão simples assim
Em um momento breve, mas marcante, a tela exibe a frase “Be positive.” — uma daquelas expressões bem-intencionadas que costumamos ouvir em momentos difíceis. Só que, ali, o contraste com o que estamos vendo é evidente: o menino ainda está caindo, envolto em escuridão e silêncio. A frase não consola. Ela parece deslocada, quase impotente diante da profundidade daquele instante.
Essa cena funciona como um lembrete gentil, mas necessário: nem toda dor pode ser resolvida com palavras prontas. Às vezes, tentar forçar positividade apenas esconde o que precisa ser acolhido. E o clipe, com sua narrativa sensível, não nega o sofrimento — mas o reconhece com respeito e escuta.
Ainda assim, há algo de importante na escolha dessa frase. Ela não está ali para zombar de quem tenta ajudar, mas para mostrar que o que mais conforta, muitas vezes, não é uma resposta — é presença.
E é isso que Stop the Rain oferece: um espaço onde a dor pode existir sem precisar se justificar — e onde, aos poucos, ela pode começar a se transforma
Uma mão que se estende — e a possibilidade do encontro
Entre as imagens mais simbólicas do clipe, há uma mão solitária que surge no vazio. Ela aparece logo após a frase “Preciso desligar meu celular hoje à noite”, quando a música se afasta, ficando quase distante, e o som da chuva toma conta da cena.
A mão se ergue lentamente, como se buscasse algo — um apoio, um toque, um sinal. É um gesto tímido, mas cheio de intenção. Ela se estende, hesitante, querendo talvez alcançar o que ainda não está ali.
Mas, em vez de encontrar, a mão recua. Há um leve movimento de contração, e então ela cai. Não com brutalidade, mas com resignação. Como quem tentou — e, por ora, não conseguiu. E mesmo assim, tentou.
Essa ambiguidade é o que torna a cena tão poderosa. É uma mão que pode estar pedindo ajuda. Ou pode ser a mão de quem, mesmo ferido, ainda tenta oferecer algo a outro. Pode ser as duas coisas ao mesmo tempo.
Tablo e RM escreveram Stop the Rain juntos, cada um colocando partes íntimas de si em cada verso. Essa cena, silenciosa e breve, parece representar justamente esse ponto de encontro entre os dois: momentos de vida diferentes, dores diferentes, mas uma mesma vontade de amparar. Nem sempre conseguimos sustentar a mão estendida — mas o fato de que ela foi estendida já diz tudo.
Às vezes, o gesto mais simples — o de tentar — é também o mais humano.
Conexões visuais com o universo do BTS
Stop the Rain conversa com obras anteriores — não só do BTS, mas também do Epik High — criando um elo entre fases distintas das trajetórias de RM e Tablo.
O clipe já começa com uma homenagem direta ao universo do Epik High: o quarto que aparece no início foi inspirado no stream de lo-fi lançado pelo grupo em 2024. Tablo revelou que aquele cenário representa seu “eu interior” — um espaço seguro criado pela música, recheado de referências visuais a álbuns como Map the Soul e símbolos de diferentes eras do grupo.
Mais adiante, a animação faz referência direta ao BTS. A imagem do menino flutuando de costas no vazio remete à cena icônica de Blood Sweat & Tears. Mas aqui, o silêncio substitui o impacto visual. A queda não é dramática — é íntima, emocional.

O MV também traz um detalhe textual poderoso: a frase “blood, sweat and tears” aparece parcialmente, mas as palavras “blood” e “sweat” são riscadas e substituídas por “love”. É como se a dor anterior abrisse espaço para algo mais terno, mais humano.

E por fim, a chuva constante na animação dialoga com forever rain, solo de RM. Em um dos trechos, a frase “I’m tryna stop the forever rain” aparece na tela — mas a palavra “forever” é apagada, deixando apenas “I’m tryna stop the rain”.

É um recado sutil, mas forte: a dor ainda existe, mas já não é eterna. A vontade agora é de enfrentá-la — e, se possível, interrompê-la.
Conclusão: no fim, ainda há abrigo
Stop the Rain não é apenas uma música — é um gesto de empatia. Ao longo da letra e do clipe, Tablo e RM compartilham dores reais, mas não para chocarem ou se exporem: eles fazem isso para acolher quem talvez esteja sentindo o mesmo.
A letra é densa, mas nunca sem propósito. O clipe é melancólico, mas nunca sem esperança. Como o próprio Tablo disse, essa é uma música honesta — e por isso mesmo, fortalecedora.
E você, o que sentiu ao ouvir e assistir Stop the Rain?
Conta pra gente nos comentários. ☔💬
Eu amei essa análise! Ela toca os pontos necessários e talvez que passe despercebidos a primeira vez que se escuta a música. Sem dúvida é uma obra de arte.